AUTO CONFIANÇA
Os psicólogos do esporte definem autoconfiança como a crença de que você pode realizar com sucesso um comportamento desejado. O comportamento desejado pode ser o de chutar uma bola para o gol, permanecer em um regime de exercícios, recuperar-se de uma lesão no joelho ou sacar um ace. Mas o fator comum é que você acredita que vai conseguir.
Atletas confiantes acreditam em si mesmos. Mais importante, eles acreditam em suas capacidades de adquirir as habilidades e as competências necessárias, tanto psicológicas, como mentais, para atingir seu potencial. Atletas menos confiantes duvidam se são bons o suficiente ou se têm o que é preciso para serem bem sucedidos. Quando você duvida de sua capacidade de ser bem sucedido ou espera que alguma coisa dê errado, você está criando o que é chamado de profecia auto-realizável - ou seja, espera que ela aconteça. Infelizmente, esse fenômeno é comum em programas de esporte competitivo bem como de exercícios. Profecias auto-realizáveis negativas são barreiras psicológicas que levam a um círculo vicioso: a expectativa de fracasso leva ao fracasso real, que diminui a auto imagem e aumenta as expectativas de fracasso futuro. Por exemplo, um jogador de tênis em um período ruim passa a esperar devolver um saque para fora, o que leva a um aumento da ansiedade e à diminuição da concentração, que, por sua vez, geralmente resulta em expectativas baixas e mau desempenho.
A autoconfiança é caracterizada por uma alta expectativa de sucesso. Quando você se sente confiante, tem mais probabilidade de permanecer calmo e relaxado sob pressão. Esse estado mental e corporal permite que você seja agressivo e positivo quando o resultado da competição fica equilibrado. Sua mente também fica livre para se focalizar na tarefa a ser realizada. Quando lhe falta confiança, você tende a se preocupar sobre com como você está se saindo e sobre como os outros acham que você está se saindo. Uma preocupação em evitar fracassos prejudicará a concentração, tornando-o mais facilmente distraído. Pessoas confiantes tendem a estabelecer metas desafiadoras e perseguí-las ativamente. A confiança permite que você procure alcançar as estrelas e realize seu potencial. Pessoas inseguras tendem a estabelecer metas fáceis e nunca se esforçam ao máximo. É importante esclarecer que a autoconfiança é sempre algo a ser aprendido, a ser conquistado, e um psicólogo esportivo é o profissional preparado para trabalhar com atletas para isso.
Quanto esforço uma pessoa despende e por quanto tempo ela persistirá na busca daquele objetivo dependem demais da confiança.
Quando a capacidade é igual, os vencedores de competições são geralmente os atletas que acreditam em si mesmos e em suas capacidades. Isso é especialmente verdadeiro quando a persistência é fundamental, tal como ao correr uma maratona, jogar uma partida de tênis de três horas ou ao enfrentar sessões dolorosas de reabilitação.
As pessoas no esporte comumente se referem a "jogar para ganhar" ou, inversamente, "jogar para não perder". Essas frases soam familiares, mas produzem estilos de jogo muito diferentes. Atletas confiantes tendem a jogar para ganhar: eles geralmente não têm medo de se arriscar e, portanto, assumem o controle da competição para obter a vantagem. Quando os atletas não estão confiantes, eles jogam para não perder: eles ficam hesitantes e tentam evitar cometer erros. Por exemplo, um jogador de basquetebol confiante que sai do banco tentará fazer as coisas acontecerem marcando pontos, roubando um passe ou pegando um rebote importante para empolgar o time. Um jogador menos confiante tentará evitar cometer um erro, passando a bola ou deixando de executar um arremesso. Eles ficam satisfeitos de não estragar tudo e menos preocupados em fazer alguma coisa positiva acontecer.
Atletas e técnicos refere-se a mudanças de momento como determinantes críticos de vitórias e derrotas. Ser capaz de produzir um momento positivo ou inverter um momento negativo é um
trunfo importante. Atletas altamente qualificados são mais capazes de se recuperar de adversidades do que seus colegas menos preparados. E a confiança parece ser um ingrediente fundamental nesse processo. Pessoas confiantes em si mesmas e em suas capacidades têm uma atitude de nunca desistir. Eles consideram situações nas quais as coisas estão indo contra eles como desafios e reagem com maior determinação.
Embora a confiança seja um determinante crítico de desempenho, ela não superará a incompetência. A confiança pode levar um atleta apenas até certo ponto. O desempenho melhora à medida que o nível de confiança aumenta - até um ponto ideal, em que aumentos adicionais na confiança produzem diminuições correspondentes no desempenho. Autoconfiança ideal significa estar tão convencido de poder alcançar suas metas que você lutará arduamente para lhes atingir. Isso não significa necessariamente que você sempre atuará bem, mas é fundamental alcançar seu potencial. Você pode esperar cometer alguns erros e tomar decisões erradas, e você pode perder a concentração ocasionalmente. Mas uma forte crença em si mesmo o ajudará a lidar com erros e equívocos efetivamente e a manter sua luta em direção ao sucesso. Cada pessoa tem um nível ideal de autoconfiança, e problemas de desempenho podem surgir com pouca ou muita confiança.
Muitas pessoas têm habilidades físicas para serem bem sucedidas, mas falta-lhes confiança em sua capacidade de realizar habilidades sob pressão - quando o jogo ou a partida estão nivelados. A insegurança prejudica o desempenho: ela cria ansiedade, quebra a concentração e provoca indecisão. Indivíduos com falta de confiança focalizam-se mais em suas deficiências do que em seus pontos fortes, deixando de se concentrar na tarefa a ser realizada. Às vezes, os atletas na sala de treinamento duvidam de suas capacidades de se recuperar totalmente de uma lesão. Praticantes de atividades físicas freqüentemente têm dúvidas sobre como estão atuando ou sobre suas capacidades de perceber em um programa de exercícios regular. Mas, conforme observado anteriormente, para alguns indivíduos um pouco de insegurança os mantém motivados e previne a complacência ou o excesso de confiança.
Pessoas super confiantes são na verdade falsamente confiantes. Ou seja, a confiança delas é maior do que suas capacidades. Seu desempenho diminui porque elas acreditam que não precisam preparar-se ou fazer esforço para realizar o trabalho. Isso ocorre quando uma equipe altamente considerada dá como certa a vitória sobre uma outra equipe, com seus membros pensando que tudo o que têm a fazer é estar presente para vencer. Entretanto, você não pode ser excessivamente confiante se sua confiança se baseia em habilidades e em capacidade reais (e, em outras palavras, contanto que você valorize seu adversário). Via de regra, o excesso de confiança é muito menos problemático do que a falta de confiança. Entretanto, quando ocorre, os resultados podem ser igualmente desastrosos.
Muitas pessoas acreditam que ou você tem confiança ou não tem. Entretanto, a confiança pode ser desenvolvida pelo trabalho, pela prática e pelo planejamento junto ao psicólogo esportivo. A confiança também pode ser melhorada por meio das seguintes dicas:
Realizações de desempenhoComportamentos bem sucedidos aumentam a confiança e levam a mais comportamentos bem sucedidos. As realizações bem sucedidas poderiam ser derrotar um determinado adversário, sair de um placar adverso e vencer o jogo, estender seu joelho completamente durante reabilitação, ou se exercitar continuamente durante 30 minutos. Evidentemente, quando uma equipe perde oito jogos seguidos, será difícil sentir-se confiante em relação a vencer o próximo jogo, especialmente contra uma boa equipe. A confiança é crucial para o sucesso, mas como você pode fica confiante sem um sucesso anterior? Você certamente tem mais probabilidade de se sentir confiante em relação a executar uma determinada habilidade se você puder executá-la consistentemente durante o treinamento. Essa é a razão por que bons treinos e preparo físico, técnico, e tático para jogar o máximo aumentam a confiança. Na maioria dos casos, realizações de desempenho desenvolvem a confiança, e a confiança então melhora o desempenho subsequente. Nada desperta mais confiança do que treinar o que você quer realizar na competição. Para um atleta em recuperação, objetivos de curto prazo podem aumentar sua confiança. O técnico deve estruturar os treinos para simular condições de desempenho real. Por exemplo, se os lances livres sob pressão foram um problema no passado, cada jogador deveria arremessar cem lances livres extras durante o treino. Entretanto, isso não simularia ação real de jogo. Seria melhor que cada jogador caísse e levantasse do chão várias vezes antes de arremessar qualquer lance livre (uma vez que isso acontece durante o jogo). Além disso, para criar pressão o técnico pode requerer que cada jogador acerte cinco lances livres em uma série ou continue esse exercício até conseguir fazê-lo. Isso pode criar um pouco de pressão e cansaço (exatamente como no jogo). À medida que os jogadores começam a acertar consistentemente seus lances livres sob essas condições, desenvolve-se uma confiança de que eles podem fazer a mesma coisa no jogo.
Atuação confiantePensamentos, sentimentos e comportamentos estão inter-relacionados: quanto mais um atleta age com confiança, maior a probabilidade dele se sentir confiante. Isso é especialmente importante quando você começa a perder a confiança e seu adversário, sentindo isso, começa a ganhar confiança. Agir com confiança também é importante para outros profissionais do esporte e do exercício. Uma instrutora de aeróbica deve projetar confiança ao liderar sua classe se quiser ter uma ambiente de alto astral. Um fisioterapeuta deve agir com confiança ao tratar atletas de modo que eles tenham fé e confiança durante o processo de reabilitação. Os atletas devem tentar exibir uma imagem confiante durante as competições. Eles podem demonstrar sua confiança mantendo a cabeça levantada - mesmo após um erro crítico. Muitas pessoas revelam-se por meio de linguagem e movimentos corporais que indicam que elas estão perdendo a confiança. Agir com confiança também pode elevar o espírito durante tempos difíceis. Se um pessoa anda por aí com ombros caídos, cabeça baixa e uma expressão facial pesarosa, ela comunica a todos os observadores que está para baixo, o que só serve para deixá-la ainda pior. É melhor manter sua cabeça de pé, os ombros para trás e a musculatura facial solta para indicar que você está confiante e não desistirá. Isso deixará os adversários na dúvida.
Pensamento confianteConfiança consiste em pensar que você pode e irá atingir suas metas. Conforme observou um remador universitário: "Se penso que posso vencer, eu sou tremendamente difícil de ser derrotado". Uma atitude positiva é fundamental para atingir seu potencial. Os atletas precisam livrar-se de pensamentos negativos ("Sou tão estúpido", "Não posso acreditar que esteja jogando tão mal", "Simplesmente não posso vencer essa pessoa" ou "Nunca vou fazer isto") e substituí-los por pensamentos positivos ("Vou continuar melhorando se eu trabalhar nisto", "Fique calmo e focalizado", "Posso ganhar deste cara" ou "Não desanime que as coisas melhorar"). Pensamentos e diálogos interiores devem ser instrutivos, motivadores e não críticos. Corrigir a técnica, encorajar e fornecer dicas para realizar a habilidade com mais sucesso devem ser o foco do diálogo interior. De fato, o diálogo interior positivo não apenas pode dar dicas de desempenho específicas, mas também manter a motivação e a energia altas. Embora às vezes difícil de fazer, o diálogo interior positivo resulta em uma experiência atlética mais agradável e bem sucedida, fazendo valer a pena usá-lo.
MentalizaçãoVocê pode ver-se fazendo coisas que ou você nunca foi capaz de fazer ou teve dificuldades pra fazer. Uma corredora de longa distância pode ver-se vencendo uma arqui-rival após perder para ela nas últimas cinco corridas. De forma similar, técnicos podem ajudar os atletas lesionados a desenvolverem confiança fazendo-os visualizarem-se voltando ao campo e atuando bem.
Condicionamento físicoEstar em sua melhor forma física possível é um outro segredo para se sentir confiante. Atletas na maioria dos esportes treinam o ano inteiro para melhorar a força, a resistência e a flexibilidade. Treinar e seguir bons hábitos nutricionais ajuda a saber que você pode ficar lá o tempo que for necessário para realizar o seu trabalho.
PreparaçãoEstar preparado dá-lhe a confiança de que você fez todo o possível para assegurar o sucesso. Um plano lhe dá confiança porque você sabe o que está indo fazer. Muitos atletas entram em uma competição sem uma estratégia. Mas sempre deve haver um plano de ataque, que requer que você tenha pelo menos uma idéia geral do que você quer realizar e como você o fará. A maioria dos atletas olímpicos bem sucedidos tem planos e estratégias do que querem fazer. Eles também têm estratégias alternativas. Um bom plano considera não apenas suas próprias capacidades, mas também as de seu adversário. A boa preparação também inclui uma rotina pré competição estabelecida. Saber exatamente o que vai acontecer lhe dá confiança e acalma seus pensamentos. Estar seguro de quando você vai comer, treinar, alongar-se e chegar na competição ajuda a desenvolver uma confiança que se estende para a própria competição.
DICAS PARA DESENVOLVER A CONFIANÇA
O que fazer
Mantenha um ambiente pré competitivo extremamente positivo;
Tenha altas expectativas de todos os seus participantes;
Estabeleça metas de curto e longo prazos realistas, mas desafiadoras;
Forneça muito feedback positivo e elogios condicionais;
Estruture o ambiente de modo a facilitar o sucesso;
Tente observar o que os indivíduos fazem certo (em oposição a apenas procurar seus erros).
O que não fazer
Não utilize sarcasmo e humilhações para motivar pessoas;
Não permita que companheiros de equipe ou membros do grupo menosprezem outra equipe ou membros do outro grupo;
Não critique indivíduos por erros ou equívocos irrelevantes;
Não embarace e critique indivíduos ao primeiro sinal de erro;
Não critique a pessoa, critique o comportamento.
Bibliografia:BECKER, Jr. B. Manual de psicologia do esporte e exercício. Porto Alegre: Nova prova, 2000. 399p.SAMULSKI, D. Psicologia do esporte: teoria e aplicação pratica. Belo Horizonte: Imprensa Universitária, 1995. 167p. WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Tradução: Maria Cristina Monteiro. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. 560p. WEINECK, J. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações especificas de treinamento infantil e juvenil. Tradução: Beatriz Maria Romano Spitta. 9. ed. São Paulo: Manole, 1999. 740p.
Gisele Miranda - CRP 12/04071Coordenadora do Serviço de Psicologia do Esporteda Fundação Municipal de Desportos de Blumenau