quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Programação campeã

Programação campeã
PNL é usada com sucesso para aperfeiçoarDesempenho de atletas nos mais diversos esportes
Danielle Carvalho
O ano era 2002 e o volante brasileiro Gilberto Silva havia acabado de chegar ao Arsenal, clube da Inglaterra que defende até hoje. Ao vê-lo jogando, o técnico Arsene Wenger só pôde pensar em uma definição: “uma parede invisível”. O atleta estava então no auge da carreira (naquele mesmo ano, conquistou a Copa do Mundo como titular da seleção brasileira), algo que parecia improvável meses antes, quando o então jogador do Atlético Mineiro sequer tinha vaga garantida no grupo do técnico Luís Felipe Scolari. O que pouca gente sabe é que a evolução que transformou o jogador do Atlético na “ parede” do Arsenal e da Seleção Brasileira teve tudo a ver com a Programação Neurolingüística.A trajetória de sucesso de Gilberto Silva passou pelo trabalho realizado por Ricardo Melo, consultor de desenvolvimento humano e Master Trainer em Programação Neurolingüística (PNL). “Antes da Copa de 2002, fizemos um trabalho, com aplicação de técnicas de PNL, para fortalecer a capacidade de marcação e a dosagem de força, o que, na prática, significa fazer menos faltas no jogo ou cometê-las sem tomar cartão. Trabalhamos neste enfoque, alinhando mente, emocional e físico”, conta Melo, que também é diretor do Instituto que leva seu nome. Atualmente, o consultor desenvolve um amplo trabalho de Coaching Esportivo com o clube do Cruzeiro (MG), envolvendo diretoria, equipe técnica e jogadores. “No Cruzeiro utilizo a PNL dentro de um processo. Gosto da seguinte analogia, neste caso: se o coaching fosse um computador, a PNL seria o Windows”, diz.A aplicação da PNL ao esporte não é recente. Hermes Balbino, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Campinas (Unicamp) e consultor esportivo do time de basquete masculino Uniara/Lupo/Araraquara, já fazia uso das ferramentas de Programação Neurolingüistica em 1989, em seus treinos como preparador físico da seleção brasileira de basquete feminino.“Conheci a PNL com Mauricio Kobayashi, treinador de Cláudio Kano (campeão de tênis de mesa). Os atletas treinados por Kobayashi eram diferenciados, tinham objetivos e metas claras. Os treinos dele eram diferentes, ele fazia muito uso de metáforas, ressignificações, linguagem hipnótica e relaxamento. Aquilo trazia um resultado maravilhoso”, diz Balbino. Ele acrescenta que desde 89 aplicava técnicas de PNL no grupo de treino. “A preparação física é uma das partes mais puxadas do treinamento de um atleta. É cansativa e pesada, mas é parte importante do todo, e a evolução do trabalho foi clara. Conquistamos o Panamericano de Havana, a medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta de 1996 e primeiro lugar na Copa America”, relembra.Balbino conta que buscava em seu trabalho estratégias que provocassem mudanças internas nas jogadoras da seleção de basquete. “Precisava entender as experiências pelas quais elas passavam e levá-las para onde elas deveriam estar. A PNL me deu condição de melhorar o campo profissional”.
Meio ideal
Por utilizar método e processo para determinar os padrões que as pessoas utilizam para obter resultados excepcionais naquilo que fazem, a PNL se torna um meio ideal para ajudar atletas a conquistarem seus objetivos, modelarem sucessos e poder replicá-los. “A idéia é despertar no atleta e nos times os recursos que existem dentro deles. A PNL é como uma lanterna: ela ilumina, mostra o centro do que de melhor está em cada um”, compara Balbino.O primeiro passo do trabalho dos facilitadores é mapear os objetivos dos atletas. “Todo esportista, seja ele de alto nível ou o amador, aquele que vai à academia para perder barriga ou o corredor de final de semana, começa no esporte a partir de um objetivo. A PNL é uma ferramenta bárbara para enxergar e atingir as metas”, afirma Ricardo Melo. A partir daí, são traçados os perfis: experiências de vitórias e fracassos, lembranças positivas e negativas, feedbacks. Estas informações mostram as crenças individuais e do grupo, que irão permitir o uso futuro de âncoras. “Todas as experiências irão refletir no comportamento. Por exemplo: um jogador que retorna de uma contusão após sete meses parado, pode se sentir reticente em dividir uma bola, porque sua última lembrança é a lesão. Ou mesmo a rejeição da torcida. O profissional tem que trabalhar isso, no sentido de mudar a percepção interna do atleta, ou ele entrará reservado no jogo e seu rendimento ficará comprometido. Tudo isso tem que ser desenvolvido e a PNL auxilia muito”, complementa Melo.Balbino afirma ainda que uma das partes importantes do processo é a ressignificação. “No caso de derrotas, monto dinâmicas onde não apontamos culpados. Não julgamos pessoas e sim analisamos o comportamento do grupo. Fazemos uma ressignificação e deixo aparecer o que fez com que a performance não tenha sido a ideal. O objetivo é entender a percepção do modelo de mundo de cada sujeito, desafiar suas queixas e assim desatar os nós que impediram o desempenho desejado do time”, revela.O importante, segundo ele, é sempre trabalhar para alinhar simultaneamente mente, emoção e ação. “Certa vez, trabalhei com dois jogadores de basquete individualmente, pois eles não tinham rendido como podiam em uma partida. No jogo seguinte, os mesmos jogadores foram os maiores pontuadores”.
Ressignificação
Como preparador físico, Balbino conta que também ressignificava as práticas de treino e trabalhava com as jogadoras da seleção feminina de basquete com objetivos e metas presentes. “Muitas vezes as atletas chegavam a ficar longas temporadas juntas, na concentração e durante os campeonatos. Nem sempre em lugares que elas desejavam estar ou com pessoas que haviam escolhido para dividir o espaço. Assim, ressignificávamos tudo. Eu mostrava que o desafio não é apenas completar a tarefa ou o treino. O desafio naquela preparação é a superação física, mental, emocional, social e até de ambiente.”Ele diz que fazia o desenho da prática e assim todos enxergavam a periodização do treino. “Cada unidade tem que ser encantada para que o atleta mantenha o foco no objetivo. Destaco o que há de novo a se aprender em cada etapa e permito que o atleta tenha insights durante a prática. Ele tem que saber que nasceu para aquilo e querer estar ali. Como o tenista Jimmy Connors dizia: quando ele jogava, a quadra de tênis era o único lugar do mundo onde ele queria estar.”Alinhamento entre o mental, o emocional e a ação é ponto chave no esporte. Ricardo Melo destaca, por exemplo, a relação do diálogo interno e do tônus emocional de competitividade do atleta. “Pegue um fundista. Se, ao começar uma maratona, o diálogo interno começa a dizer para ele que ele não conseguirá chegar ao final ou que o queniano ao seu lado é um competidor mais forte, o seu tônus emocional de competitividade cai e ele perde rendimento. Nós trabalhamos para alinhar o seu diálogo interno com a melhor performance mental na hora da competição”, diz.Durante a preparação do atleta, também é sugerido trabalho de diálogo interno fortalecedor, para que o esportista se motive no treinamento, através de metas palpáveis, que possam ser mensuradas. “Por exemplo, o treinamento de um velocista. A meta dele é baixar milésimos em sua prova mundial. Para que ele possa atingir o objetivo final, serão meses de treinamento. Este processo pode ser dividido, pois assim ele terá metas próximas e que possam ser medidas, para que ele mantenha o foco até o final. A mesma coisa para alguém que deseja emagrecer. Em vez de pensar no total, por exemplo, perder 20 kg, ela divide em 2 por mês. O cérebro assimila melhor”.
Campeão de basquete Chuí garante: prática potencializa o melhor de cada um
O ex-jogador e hoje técnico de basquete do Uniara/Lupo/Araraquara, Marcos Aurélio Pegolo dos Santos, o Chuí, realizou um trabalho com técnicas de PNL durante seis meses com seus jogadores e afirma que os resultados foram notórios. “Eu já havia feito uso das ferramentas da Programação Neurolingüística comigo, na minha época de jogador. A experiência foi muito válida, pois me fez entender os momentos dos jogos. Eu conseguia tirar o quanto precisava da emoção e enxergar a situação do jogo real”, conta ele, que foi bicampeão sul-americano de basquete (1989 e 1993) e medalha de bronze nos Jogos Americanos de Mar Del Plata, na Argentina (1995).Chuí conta que durante o treinamento do Uniara/Lupo ele procura trabalhar com exercícios mentais de visualização, especificamente em cima das funções de lance livre, arremesso de dois e três pontos. “Conversamos sobre o arremesso perfeito e realizamos o treino mental, com visualizações, e o mecânico. Você percebe na hora uma confiança maior no jogador, a mecânica fica melhor e, em termos de números, temos um bom aumento de acertos. Todos os jogadores ficaram satisfeitos com a aprendizagem”, revela o técnico.
Pan Americano no Brasil
Pela primeira vez na história os Jogos Pan Americanos serão realizados no Brasil, no Rio de Janeiro, a partir de junho deste ano. Na avaliação dos especialistas em PNL, este fato pode ser ponto de pressão ou ponto a favor da atuação dos esportistas, uma vez que suas famílias e amigos poderão estar presentes aos estádios, piscinas, ginásios e campos, e com isso haverá uma grande torcida durante as competições. Para determinar conscientemente qual será a conseqüência de jogar “em casa”, as atletas podem recorrer à PNL. “A Programação Neurolingüística é uma ferramenta poderosíssima para auxiliar este competidor, pois através dela, ele poderá montar modelos mentais de sucesso e êxito. Assim, o esportista irá encarar todos os fatores de competir no Rio de Janeiro a seu favor, basta usar a PNL”, aconselha Ricardo Melo.

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