quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

PNL, TÉNIS E TAI-CHI-CHUAN UNIDOS

Inês Cozzo Olivares
O tênis, o tai-chi-chuan e a Programação Neurolingüística (PNL) podem se unir para transformar gerentes em instrutores mais eficientes para suas equipes? Walther Hermann e Cristiana Scala acreditam que sim e contam como, dentro de uma das propostas desta coluna que é a de apresentar propostas novas, sintonizadas com os novos paradigmas na administração de talentos humanos nas organizações.
Walther Hermann é instrutor de tai-chi-chuan e tênis; idealizador do Método de Ensino Hermann's Light Tennis, NLP Licensed Trainer por Richard Bandler (matemático, gestalt-terapeuta, co-autor da PNL) e Cristiana Tieppo Scala é psicóloga, professora de psicologia esportiva da Universidade de Formação, Educação e Cultura (UNICEF/ABC). Dessa união surgiu uma parceria inusitada e um trabalho surpreendente: um seminário de desenvolvimento gerencial chamado "O gerente como instrutor".
Partindo do princípio que todo o líder na organização é um educador, um orientador de sua equipe no sentido de atingir objetivos e de que toda a aprendizagem é cognitiva, afetiva e motora, Walther e Cristiana desenvolvem um trabalho realizado dentro do ambiente esportivo com atividades inseridas na filosofia "aprendendo a aprender".
Walther explica que "o sucesso em desenvolver colaboradores competentes e motivados depende, em grande parte, da habilidade de cada gerente em ensinar ou, antes, facilitar a aprendizagem daqueles a quem lidera". Ele conta como surgiu o método: "Eu pratico tênis desde 1977", diz. "Apesar de treinar muito para competições, apresentava uma performance muito baixa. Nas aulas de tênis tinha uma preocupação muito grande, devida a minha formação na área de exatas (engenharia, física e matemática) em explicar tudo, mas também, com um resultado muito baixo de ensino, e pensava em como eu poderia melhorar isto. Em 83 comecei a praticar tai-chi-chuan, e percebia que, enquanto as outras pessoas faziam os movimentos com muita leveza, eu deixava uma 'poça de suor' no chão. Ainda não sabia, naquela época, que isso era devido a uma programação biológica de superaquecimento".
"Estas contradições, somadas a outros estímulos que recebi do contato com a cultura oriental como paradoxos que me levaram a buscar novos caminhos, fizeram com que descobrisse que, através da sensibilidade e da percepção, tanto no tai-chi como no tênis, conseguia resultados cada vez melhores. Ensinando tai-chi comecei a vivenciar e a compreender como funciona o processo de aprendizagem. Percebi que, por exemplo, os alunos faziam os mesmos gestos durante um tempo, mas o padrão de movimento, relaxamento, continuidade e suavidade mudavam. Foi quando compreendi que as pessoas aprendem, praticam e, de repente, há um ponto de ruptura", diz.
E complementa: "Depois de algum tempo, o mesmo movimento é feito completamente diferente. Por fora o gesto é o mesmo, mas a suavidade, a continuidade e a percepção são outras. Através dessa experiência tomei consciência de um outro paradoxo: ensinar não tem nada a ver com aprender. Uma outra coisa que percebi no tai-chi era que a minha agilidade tinha desenvolvido muito, o que é outro paradoxo: desenvolver velocidade e agilidade treinando cada vez mais devagar; desenvolvendo a percepção e a consciência, automatizamos os movimentos muito mais rápidos e com um nível de eficiência muito maior. Na verdade, para jogar mais rápido e ser mais ágil temos que perceber e sentir mais. Para obter isto, temos que fazer mais e mais devagar".
Segundo Walther, em todos os setores de nossa vida, as coisas funcionam dessa forma:Grande esforço - Baixo rendimento
Com o desenvolvimento da percepção e da sensibilidade em substituição ao fazer mecanicamente, diminuição no nível de tensão muscular, coordenação de movimentos, percepção visual entre outras, as pessoas começam a usar o corpo como um grande laboratório, um tubo de ensaio, para desenvolver questões mais abstratas porque existem paralelos, isto é, há estruturas semelhantes às psíquicas, no corpo.
"Moshe Feldenkrais explica isto de uma forma brilhante em seu livro - Consciência pelo movimento, que fundamenta nosso trabalho", esclarece Cristiana. "Ele mostra que no nível do córtex motora existe uma representação, chamada por ele de 'homúnculo' que seria uma representação nervosa dentro da córtex motora, tendo relação com outras partes do corpo. Se nós fossemos representar o corpo como um universo de sensações, ele mostraria um monstrinho da seguinte forma: se a pessoa é destra, a mão direita é muito grande e a mão esquerda é muito pequena; se ela fala mais do que ouve, o 'homúnculo' tem uma mega boca e uma mega língua, mas orelhas minúsculas, e de repente as costas dele podem não representar nada porque ele tem percepção zero de suas costas. Através desse processo, Feldenkrais explica que o corpo tem a ver com a mente e vice-versa, e propõe que o movimento ideal dentro de um equilíbrio e desenvolvimento seja fazer este 'homúnculo' (auto-imagem) se parecer o máximo possível com o homem integral, através do desenvolvimento de percepções auditivas, visuais, cinestésicas (táteis, olfativas, gustativas) etc. Ele diz que cada vez que mudamos, criamos gestos novos em nosso repertório e os incorporamos como naturais, passando por profundas transformações ligadas à estrutura emocional, afetiva e à própria estrutura psíquica do ser humano, alterando-a também".
A Programação Neurolingüística entrou nesse trabalho como a psicologia esportiva, por causa do estudo que ambos fizeram sobre motivação pessoal e modelagem de estratégias de ensino (inclusive de profissionais de outras áreas) para melhorar algumas performances. Na verdade, grande parte do conceito de aprender a aprender é trabalhado na PNL de Richard Bandler, com quem Walther estudou.
Ambos explicam que o maior paralelo entre seu trabalho e a realidade das empresas é a questão da formação de times fortes, de performance pessoal para lidar melhor com relacionamentos interpessoais.
No início ele "vendia" seu curso nos grêmios das empresas e não à diretoria. Mas ele próprio tornou-se empresário e passou pelas vicissitudes dos que conhecia nos seu cursos. "Aprendi muito com meus alunos e fui desenvolvendo o linguajar da área empresarial, fui estudando e fazendo cursos, pesquisas até que cheguei ao meu objetivo inicial: gerenciar uma empresa como se gerencia um time, com objetivos de curto e longo prazos, processos de desenvolvimento, questões de comunicação e relacionamento, sinergia, questões de liderança e tudo o mais que se vê no dia-a-dia das organizações", afirma.
A idéia, diz Cristiana, "é ensinar tênis no curso como uma metáfora". O participante é levado a refletir sobre o que ele pode fazer para que sua equipe atinja os objetivos e metas da organização com mais eficiência e menos esforço. "Aprender algo complexo fica mais fácil se eu divido em partes", observa Walther. "Ao mesmo tempo, no curso nós procuramos descobrir o que o participante já sabe, é o princípio do construtivismo, pois tenho que saber onde estou e onde quero chegar para saber que caminho vou trilhar".
O processo, na verdade, não é o de ensinar diretamente, mas o de gerar experiências a partir das quais as pessoas aprendam. É o mesmo princípio da filosofia socrática, de que só é válido o conhecimento de dentro para fora; não adianta mandar fazer dessa ou daquela maneira e também pouco resolvem os conceitos técnicos e teóricos sobre os problemas que se vivencia no dia-a-dia. É preciso que cada um responda às suas questões. De qualquer forma, a expressão para tomadas de consciência é insight, e não outsight. O fato é que, nas palavras de Walther Hermann, "assim como um nome limita algo, uma resposta a uma pergunta também limita". Nessa medida, Walther e Cristiana trabalham com o rompimento de quaisquer crenças limitantes, levando os participantes a perceberem a si mesmos e aos outros como mananciais de possibilidades, o que gera maior auto-estima, segurança pessoal e autoconfiança.
Entretanto, essas experiências só são possíveis porque o curso não é dado em sala de aula. "A mobilização ocorre principalmente através da afetividade, algo que raramente uma pessoa obtém em sala de aula, sentando-se em uma cadeira, lembrando que todo o aprendizado é cognitivo, afetivo e motor. O mais sério é que, nessas condições (de sala de aula) não temos nada de motor e não raro, nada de afetivo, só cognitivo. O que fazemos aqui é mexer na estrutura de crenças que as pessoas têm. Isso as mobiliza afetivamente, ancorando, associando no mesmo espaço-tempo dentro da cabeça delas determinados gestos e esforços a determinadas percepções do corpo e de potencialidades. O conflito principal e paradoxal é o seguinte: não se ensina, se aprende. Se não podemos ensinar, como podemos gerar aprendizagem? A resposta é: mobilizando e fazendo determinadas associações para que, aquilo que ela aprenda tenha um referencial motor, afetivo e cognitivo, por isso hoje os treinadores atualmente são chamados de facilitadores".
Walther e Cristiana me lembra muito um mestre Zen de natação-eido que dizia: "Eu não ensino e não mando. Ensinando sai cópia. Mandando sai escravo. Eu transmito meu espírito"- Mestre Kan-Ichi Sato.
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